Boas vindas

O objetivo principal deste blog é edificar vidas.

Os artigos e informações aqui contidas visam tão somente tornar as pessoas mais conscientes de si; seguras na busca do entendimento sobre o mundo, os fatos, as pessoas; acreditem mais na construção de um mundo melhor e na beleza da criatura humana. Bom proveito !

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segunda-feira, 30 de abril de 2012

UMA REVELAÇÃO MUITO PESSOAL


Segundo o sábio Salomão, há tempo para tudo sobre a face da terra. E eu sinto que o meu tempo agora é de tirar o pé do acelerador. O corre-corre da vida exige velocidade e eu sempre correspondi a essa exigência. Porém, no meu tempo atual, preciso diminuir essa correria. Não vai ser necessário parar, apenas manter o ritmo na velocidade regulamentada pela vida entre 40, 60 ou 80 km, dependendo das circunstâncias. É como se o meu corpo estivesse pedindo para ser melhor dirigido. Nas minhas reflexões e nos meus momentos de silêncio, consegui entender o meu corpo e ouvi claramente a sua meiga e humilde voz. Tomei o propósito de atender esse clamor, mas não tem sido fácil. Ainda bem que descobri não ser impossível. Para tanto, basta ter sabedoria na administração do tempo e disciplina para seguir.
É o que venho, há tempo, tentado fazer. Porém, sempre tenho me deparado com dificuldades, pois os desafios são grandes. A vida moderna, aliás, pós-moderna, impõe muitas exigências, dentre elas, algumas que podemos relegar sem maiores prejuízos e outras que o não atendimento trará conseqüências das mais perigosas ou mesmo fatais.  Nestas, destaco a saúde, a convivência conjugal e familiar, a espiritualidade e a renda pessoal. Destes, tenho sido vitorioso na conivência conjugal, familiar e na espiritualidade. Já quanto à renda e a saúde, apesar do relativo êxito obtido até agora, ainda exigem cuidados. Esta é a razão da minha decisão de, progressivamente, ir me afastando de algumas instituições, que atuo como voluntário.
Dentre elas, o precioso Tribunal de Ética e Disciplina – TED, da OAB. Não foi fácil tomar essa decisão. Desejava ser mais útil a nossa OAB, através do TED. Mas, nos últimos anos, tenho encontrado dificuldade de estar presente e de pesquisar, a fundo, os processos para dar um Parecer que faça justiça, pois não me contento apenas em justificar o voto. Prefiro ir além, até encontrar as verdadeiras razões para opinar, com segurança, sobre a procedência ou não da representação. Isso tudo exige tempo livre, o que realmente não tenho.
Duas outras instituições eu tive também de deixar. Uma, é a CNEC, entidade sem fins lucrativos, que atua na área educacional. A outra é o Lar de Crianças Davis que abriga filhos de detentos, sem família estruturada para acolhê-los. Assim, pedi o meu desligamento dos trabalhos voluntários sistemáticos que eu realizava nessas instituições. Continuarei apenas realizando eventuais trabalhos voluntários, da forma como eu sempre me dispus a fazer.
Para dar uma idéia da imperiosa necessidade de administrar melhor o meu tempo, segue uma pequena demonstração: a) preciso dormir, impreterivelmente, entre oito e nove horas por dia; b) tenho que, diariamente, fazer as minhas refeições, com espaço entre elas, no mínimo, de três a quatro horas; c) essas refeições têm de ser saudáveis, portanto, devo evitar refeições fora de casa; d) é importante caminhar 30min diariamente ou 1h em dias alternados; e) não posso deixar de reservar, pelo menos, duas horas por dia para leitura; f) tenho que disponibilizar, em média, três a quatro horas por dia para produzir petições, artigos, orientações aos clientes e responder e-mails profissionais; g) o trabalho que desenvolvo, exige visitas e encontros, fora as audiências, o que ocupam um bom espaço de tempo; h) é precioso deixar espaço para lazer, meditação e relacionamentos. Para atender essa demanda de tempo, fui obrigado a diminuir o trabalho voluntário e racional o meu trabalho profissional.
Hoje, 30 de abril, completo exatamente os meus 66 anos de existência. Desejo viver por muito tempo. Preciso, pois, cuidar bem da minha saúde. Sem ela, nada tem valor. Ao longo dos últimos 10 anos, já tive AVC por três vezes. As seqüelas não foram muito graves, Graças a Deus, pois todos eles foram AVC isquêmico, que é um dos mais simples. Não quero correr o risco de ter mais um. Pode ser que, caso haja o próximo, eu não tenha a mesma sorte dos anteriores. Adoro a vida, o mundo e as pessoas. Desejo ficar por mais tempo nessa terrinha.
Essa revelação foi postada, com a única intenção de ajudar àqueles que têm idade próxima da minha e que, de uma forma ou de outra, já sentem a necessidade de diminuir um pouco o seu ritmo de vida.
É destinada também aos mais novos e aos muito mais novos. Eles precisam, desde cedo, despertar para a necessidade de administrar bem o seu tempo. E isso exige reflexão e constante reposicionamento, até encontrar a melhor forma de viver. qual seja, conciliar bem o sucesso profissional com o ser bem sucedido na família e no relacionamento com Deus.



José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

quinta-feira, 19 de abril de 2012

MEU DIREITO DE SER HETEROSSEXUAL!


        Essa afirmação, aparentemente desnecessária, e até certo ponto deveria ser, vem a propósito das transformações tão velozes que o mundo passa, alterando os usos e costumes de tal modo, que às vezes nos confundimos. Fruto da evolução do pensamento humano, a sociedade amadureceu muito. Isso é bom, bom mesmo. Não podia continuar retrógrada, por isso foi alterando as suas práticas, os seus conceitos, para acompanhar as grandes mudanças sociais, o novo tempo. Como toda mudança, há estranheza sobre o novo, provocando reações, desentendimento e, às vezes, até conflitos. Já escrevi neste blog sobre conflitos e inquietações diante de outros comportamentos sociais. Recentemente, assistimos na mídia a reação pessoal e em grupos, tanto nas ruas, como nos sites de relacionamentos, censurando fortemente a exposição feita por uma emissora de televisão da prática de sexo, ao vivo e em tempo real. Não cabe aqui, neste artigo, entrar no mérito. Mas, uma coisa é certa, a sociedade censurou a cena e clama por limites nas baixarias em alguns programas da televisão brasileira. Houve exagero, isso ficou bem claro. A sociedade reconhece a evolução da liberdade, mas clama por limites. Pois é, do mesmo modo, eu reconheço a importância e a beleza da atividade sexual; do respeito a quem resolveu ter uma vida diferente; da abertura de aceitar a opção sexual feita por quem sentiu a necessidade de assim fazê-lo; do tratamento respeitoso que a lei e os tribunais dispensam às opções sexuais. Tudo isso é muito belo. Por entender e pensar assim, não aceito discriminação dessas pessoas e repudio totalmente qualquer ato de violência contra elas, qualquer que seja a justificativa, pois reflete presença de ódio e rejeição, o que não devemos aceitar, por hipótese nenhuma. Contudo, uma coisa me inquieta. Trata-se do outro lado da moeda. Consiste na forma, subliminar e bem articulada, de supervalorizar quem fez uma opção sexual. Passou a ter status de autenticidade e de coragem, o que não deixa de ser, pois assumiu o que no seu interior clamava, mesmo enfrentando as adversidades de quem discordava. Todavia, os aplausos, o status de um ser superior e, às vezes, até o seu endeusamento, denotam em desconsideração aos que não tiverem necessidade de fazer opção por outra sexualidade, por estarem extremamente satisfeitos com a sua forma de viver. Nós, que optamos em continuar sendo o que somos, não aceitamos ser considerados “subprodutos”. Nós somos também corajosos e autênticos. Temos, também, o nosso valor. Merecemos, também, todo o respeito, consideração e admiração. Não nos inibam de continuar como somos. Não nos constranjam e nem nos diminuam. Somos heterossexuais por natureza e gostamos de ser assim. Que se respeite àqueles que fizeram opção sexual, tudo bem. Mas, pelo amor de Deus, não me tirem o meu prazeroso direito de ser homem heterossexual. Tenho orgulho de ser esse tipo de homem. E sou muito feliz assim. Não tenho nenhuma necessidade de fazer opção sexual. A minha sexualidade está correta e perfeita. Aceito igualdade de tratamento entre os que fizeram opção e os que não tiveram necessidade de fazê-lo. Mas, não aceito superioridade daqueles sobre estes. Se não dermos um basta na tendência e na insinuação mencionadas, já, já estará instalada entre nós a heterofobia.  

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quando o engraçado é prejudicial

Rir é bom. O humor suaviza e embeleza a vida. O brasileiro é engraçado, o cearense mais ainda. Isso nos torna feliz e nos faz um povo alegre. Aula sem humor não dá; relacionamento sem alegria, nem pensar. Porém, levado ao exagero, o feito é inverso. O sábio Salomão escreveu, e a boa educação está a indicar, que há momento para tudo sobre a face da terra, dentre eles, o de rir e o de chorar. Esse comentário vem a propósito de certas posturas de pais e educadores, que diante de um ato delicado e perigoso, em vez de utilizarem a correção, preferem a cômoda posição de achar engraçado. Um exemplo típico desse procedimento ocorreu com os jovens que queimaram um índio, quando este se encontrava deitado em um banco de rua em Brasília. Eles disseram que não queriam matá-lo, mas apenas se divertirem. Ou seja, eles achavam engraçado ver um índio sair correndo com fogo em sua roupa. Com certa segurança, podemos afirmar que esses jovens, na época em que eram crianças ou adolescentes, foram “prestigiados” pelos pais, familiares e amigos no momento em que praticavam alguma “brincadeira” perversa. Esse achar engraçado significou para os jovens uma aprovação tácita e serviu como incentivo para outras práticas semelhantes. Esse tipo de “brincadeira”, com certeza, não teve início apenas quando praticaram com o índio. Por certo, foi iniciada de forma mais simples, com um pequeno pássaro, um indefeso animal, ou mesmo com um desprestigiado empregado doméstico. Daí para um índio o passo é pequeno. Ainda bem que nem todos os pais e educadores agem assim. Recentemente, uma criança gritava impedindo a sua babá de entrar na piscina para se divertir. Diante desse gesto grosseiro, a babá ficou tímida, com receio de entrar. Os que estavam assistindo, acharam a cena engraçada, por se tratar de uma criança que, apesar de ser muito pequena, já tinha tanta “moral” e autoridade. A mãe, porém, teve um olhar diferente. Na sua sensibilidade deu para perceber que algo tinha de ser feito, pois o momento era sério e oferecia uma fantástica oportunidade pedagógica. Não se intimidou com o “engraçado” e nem censurou os que riam da cena. Apenas, calmamente, se aproximou da criança e repreendeu o seu gesto. Esclareceu e orientou que ninguém tem o direito de tratar as pessoas dessa forma. A criança ficou calma, entendeu a mensagem, aprendeu a lição e aceitou a babá participar das brincadeiras. Ambos continuaram felizes, brincando na piscina. Cuidado gente com o engraçado. Por traz dele pode estar uma semente de maldade ou de arrogância.    

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

sábado, 14 de abril de 2012

Viver as perguntas

Toda vez que me deparo com algo muito significativo, gera em mim, automaticamente, uma vontade enorme de reproduzir e divulgar, para o mundo inteiro, aquilo que me deparei. Pode ser uma cena do cotidiano, uma foto expressiva, uma palavra que escuto ou um texto que leio. É com base nesse sentimento que produzo os meus artigos. E é por esta razão que mantenho o costume de, sempre que possível, dar espaço neste blog para postar textos que considerei bastante significativos. É o caso do artigo que reproduzo abaixo, publicado, nesta semana, no Jornal O Povo, de autoria da Professora Universitária, Ana Valeska Maia, com o título


VIVER AS PERGUNTAS


“Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longínquo, consiga viver as respostas”, escreveu Rainer Maria Rilke em uma das cartas direcionadas a Franz Xaver Kappus, o jovem poeta. Após a leitura das cartas de Rilke, fiquei refletindo um bocado, recordando alguns momentos em sala de aula, quando foram lançadas perguntas aos estudantes. A reação comum consiste em querer apressadamente encontrar as respostas adequadas. “Calma, a resposta certa só chega quando você viveu intensamente a inquietação da pergunta”, costumo dizer. 

Viver as perguntas. Tarefa difícil em um mundo com tantas fórmulas de sucesso e felicidade. Ser feliz ultimamente parece ser uma obrigação e ficar triste uma ruína. “Por que deseja excluir de sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento?”, argumenta Rilke. 

Tenho observado como o barrar a angústia com medicamentos está na moda, para a alegria da indústria farmacêutica. Claro que existem muitos casos em que os remédios são necessários. No entanto, existem nítidos abusos no uso de medicamentos. Outro ponto de inquietação reside em observar pela cidade tantos anúncios de cursos que prometem transformar a vida da pessoa, com programas e ferramentas para “quem quer investir em si mesmo e mudar de vida”. Às vezes prometem fazer a grande transformação em um final de semana. 

Costumo desconfiar dos modismos com fórmulas fáceis. 

Afinal, viver é difícil. Somos mistério profundo porque somos o que lembramos e, sobretudo, somos o que esquecemos. Herdeiros do que não sabemos, do que não temos controle, aprendendo todos os dias a harmonizar o mundo de fora e o mundo de dentro. O mistério do caminho de cada um está também na essência da poesia incrustada nas perguntas, por isso é tão precioso vivê-las, olhando para dentro de si à procura das respostas verdadeiras. Essa tarefa nenhum outro pode realizar. Cabe, definitivamente, a cada um.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Expectativas sobre Fortaleza

A nossa querida cidade, a lindíssima Fortaleza, completa agora, no dia 13 de abril, os seus 286 anos de existência na condição de cidade. Os eventos comemorativos acontecem de múltiplas formas. Dentre elas, o Jornal O Povo resolveu dedicar, durante toda a semana, um grande espaço para curtir Fortaleza sobre os mais variados aspectos. Especificamente no dia 8, publicou, através de enquete, a opinião de profissionais, previamente escolhidos, sobre

                           Como você vê a Cidade no futuro?
Eu fui um deles e expus a opinião a seguir. Por favor, leia com carinho e faça o que puder, ok? Agradeço de coração.

Tenho duas expectativas. Uma encantadora e outra preocupante. O encanto, porque vislumbro que estará cada vez mais linda e o seu povo mais hospitaleiro e batalhador. O formato da nossa cidade, o seu entorno pelo litoral, as grandes avenidas, os prédios, as casas, os condomínios; o nosso verde, o sorriso de seu povo, a lindeza de nossa gente, a índole pacífica e humana, tudo isso garante que seremos sempre encantadores. O preocupante é a falta de planejamento por parte de nossos últimos administradores. Omissão muito prejudicial e que não é histórica, pois Fortaleza nasceu e deu seus primeiros passos e os passos seguintes de forma organizada, planejada. Expectativa só vale à pena quando gera atitude. Por isso, eu, nascido e criado nessa terrinha, me proponho a sensibilizar a comunidade para pressionar os nossos líderes pela celeridade no planejamento e clamar a nossa gente que não se descaracterize e permaneça sendo esse povo lindo por natureza.

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

domingo, 8 de abril de 2012

De Geração em Geração

Perpetuar a nossa história e os valores que nortearam o caminho percorrido é a missão mais significativa da família; é a melhor forma da sociedade manter o cidadão consciente de sua existência e de seu futuro. Essa foi a forma que o Patriarca Moises utilizou para o povo Hebreu não se esquecer do que as gerações passadas enfrentaram junto aos egípcios e outros povos da época. Com isso desejava garantir que as futuras gerações tomassem conhecimento das lutas e tranqüilidades, vitórias e derrotas, alegrias e sofrimentos, escassez e farturas enfrentadas por seus antecedentes. Fazia isso de forma prazerosa, em todos os momentos, deitando-se e levantando-se; em todos os lugares, nos umbrais das portas e nos espaços da casa; um a um, no peito e no coração. Ainda hoje, no mundo oriental, o gesto é praticado. Mesmo no mundo ocidental, na década de 60, John Kennedy sentiu a necessidade de chamar a atenção da geração de sua época: “não pergunte o que a América pode fazer por você, mas sim, o que você pode fazer pela América”. Tal frase foi repetida pelo personagem principal, no final de um dos filmes Rambo. Kennedy sentiu, e hoje é latente, a comodidade dos americanos. Em meio à atual crise ficam a espera que o Governo faça algo por eles. Essa espera é bem diferente da geração que enfrentou a crise de 1920. Eles partiram para a luta, visando tirar a América dos sérios problemas que estava vivenciando. Conseguiram de maneira fantástica. A América superou tudo. Venceu!  Esse comentário vem a propósito das grandes conquistas que o Brasil vem obtendo. Já estamos na melhor fase e preste a penetrar noutra melhor ainda. Não comporta aqui dizer quais. Você sabe. Se não percebeu, pouco adianta dizer, pois a sua sensibilidade ainda não permite. Com o tempo perceberá. O fato é que os adultos sabem o que passamos; os jovens alcançaram boa parte, mas as crianças e os adolescentes não alcançaram. Vão crescer em um Brasil bem melhor. É possível que em volta dos anos 2050 estejam liderando o país. Todavia, se não passarmos para eles a nossa luta, corremos o risco deles desconheceram o caminho percorrido; de não entenderem a fase que passam e de terem enorme dificuldade de se prepararem para os desafios seguintes. Ainda bem que estamos em pleno pós-modernismo, que não defende uma ruptura com o passado, pelo contrário, entende que devemos superá-lo sem jamais apagá-lo, ou então, reinterpretá-lo, imitá-lo e celebrá-lo.  Vamos, pois, constantemente, lembrar aos nossos filhos e alunos, como o Brasil era, as duras transformações que passamos e os passos largos que estamos dando em busca de um Brasil cada vez melhor. Essa missão é nossa e devemos cumpri-la prazerosamente.



José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

segunda-feira, 26 de março de 2012

Compreendendo a Fragilidade Humana


Analisando a conduta do ser humano, inclusive a minha própria, fico impressionado como somos submissos às inclinações do corpo e facilmente cedemos aos desejos por ele sugeridos. Como educador, deparo-me muito com pessoas que passam por problemas dos mais variados. Quase sempre, a origem deles é a prevalência dos instintos humanos sobre os nossos valores morais e éticos. Rapidamente se joga fora lindos projetos de vida por um momento de prazer. Essa é a face da fragilidade humana!
Vejo também que o problema não é novo. Na Bíblia encontramos a história de Ezaú, o irmão de Jacó, que não resistiu à fome e trocou a sua primogenitura por um cheiroso bife que seu irmão Jacó estava preparando. Davi, o valente guerreiro, não resistiu o desejo sexual quando viu a mulher do soldado Urias tomando banho.
A solução para este tipo de problema também não é nova. Trata-se do exercício do controle da vontade. É a prática do domínio próprio. O povo oriental se utilizou muito dessa estratégia, inclusive ingerindo ervas, mesmo sendo amargas, como forma de controlar o prazer. A Bíblia é rica em recomendações sobre o freio, o controle e, principalmente, a educação do desejo. Esse é o caminho para superar a fragilidade humana e nos tornarmos pessoa forte, segura e valorosa.
A dicotomia existente entre o desejo da carne e a vontade do espírito, até certo ponto, é natural. Todos nós estamos sujeitos a esse conflito. Afinal, somos constituídos de corpo e espírito, isto é, vivemos com um corpo que é temporal e, ao mesmo tempo, com o espírito que é eterno. Administrar, pois, a influência de cada um sobre o nosso modo de viver exige reflexão, cuidado, disciplina e dedicação. Esse é um dos maiores desafios para a criatura humana que deseja ter um padrão elevado de conduta e busca construir uma sociedade mais humana e um mundo melhor. Sabemos não ser fácil, mas com preparo se torna menos difícil. Isso explica porque oscilamos em nossa caminhada. Ora somos “bárbaros” e, às vezes, “romanos”; ora “selvagens” e, às vezes, “cidadãos”; ora plebeus e ora nobres; ora “brutos” e ora “finos”.
É visível, nos dias atuais, a maioria pensar, predominantemente, no sexo e em prazeres rápidos e fáceis. Estes, via de regra, prejudicam sobremaneira o bom relacionamento e até o próprio corpo. O que tem levado as pessoas a agirem assim, além da inclinação natural do próprio corpo, são os novos valores, conceitos de vida e o livre arbítrio. Com base nessa maneira de pensar, as pessoas buscam a liberdade plena, onde tudo é natural, não devendo, por isso mesmo, ser censurado ou reprimido. É um constante viver em busca do “prazer”, como se o autêntico prazer estivesse nessa liberdade.  
Mas, por outro lado sinto, também, que  há uma quantidade enorme, e crescente, de pessoas que buscam, com muita sinceridade, uma vida mais respeitosa e digna. Existem ainda, graças a Deus, muitos que, mesmo reconhecendo as dificuldades, alimentam o desejo de levar a sério sua vida espiritual. Quando se deparam com os fortes apelos da carne, procuram utilizar o domínio próprio,e optam pela conduta mais inclinada para a seriedade, primando assim pelos valores mais elevados.
A verdade é que, ao longo da minha existência, aprendi muito a entender que essa luta interior realmente existe. Como resultante dessa aprendizagem, entendi porque ora estive fraco e ora mantive-me forte. Aprendi também a entender e estar junto daqueles que ainda têm grandes dificuldades de controlar seus desejos. Entendo que eu ou você e toda pessoa que já atingiu certo amadurecimento espiritual, por ter passado (embora ainda passe) por fortes apelos de prazeres momentâneos, mas, mesmo assim, conseguiu sair-se bem, adquirindo assim uma boa dosagem de domínio próprio, deve dedicar-se a orientar e ajudar aos que ainda têm dificuldade de resistirem esses apelos. Todo esforço nesse sentido é muito válido e pode ajudar as pessoas a encontrarem o caminho que conduz à felicidade verdadeira. Caminho este que não é constituído apenas de desejos sexuais e prazeres momentâneos, dos quais estão incluídos, além de outros, sexo, bebida, droga e até estilo alimentar, mas também, e muito, de prazer, sensualidade e de amor mas em escala bem mais alta, que inclui respeito, responsabilidade e compromisso, consigo próprio, com a vida, com o outro e com Deus .
Todavia, é necessária que aquele assim se dispõe, saiba que a sua participação deve ser bem feita. Precisa ser com a autoridade de quem já adquiriu experiência, com a humildade de quem permeia pela sabedoria e com a alegria de quem é feliz. Portanto, sem a arrogância de quem acha que pode ensinar o mundo a viver e pensa que detém a sabedoria. Com esses cuidados, ai sim, podemos tentar passar para essas pessoas, um pouco da nossa experiência e daquilo que aprendemos sobre os verdadeiros valores da vida. Digamos isso para as pessoas de nossa convivência, para aquelas que amamos e para quem Deus colocar em nossa frente. Elas precisam ouvir mais sobre a vida plena, sobre o verdadeiro amor.

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

quinta-feira, 22 de março de 2012

Ajudando a Superar Limitações


Limitação é algo inerente ao ser humano. Todos têm, embora uns mais e outros menos. Muitas dessas limitações existem desde o nascimento e outras, nós adquirimos no decorrer da existência. É o caso de quem nasceu com ausência de um braço ou apenas com deficiência e o que nasceu com os braços normais, porém por desastre ou doença perdeu o braço ou teve alterado o seu funcionamento. Até ai todos somos iguais, não tivemos participação pessoal na situação. O que nos faz diferente um dos outros é a forma como trabalhamos as próprias limitações. Enquanto uns se abatem muito e outros, pouco, há também os que tentam superar e os que se acomodam. Há ainda, aqueles que só perceberam as limitações de ordem físicas, mas desconhecem as emocionais. Qualquer que seja o tipo de limitação, em si ou no outro, nós que educamos temos a obrigação de ficar atentos a algo que é muito importante: o desafio de superar as limitações. Elas existem, todos precisam conviver com elas e, o mais significativo, necessitam de apoio para administrá-las bem. Os exemplos são enormes de pessoas que superaram bem as limitações físicas, mesmo as que foram adquiridas já com certa idade. Mas, não tem a mesma dimensão os exemplos de pessoas que superaram as suas limitações subjetivas. Estas quase não são percebidas pelos demais e, às vezes, pela própria pessoa. É o caso, por exemplo, de pessoas muito tímidas ou inseguras. Elas são limitadas nessa área e sofrem com isso. A responsabilidade de quem convive com essas pessoas é muito grande. Nós que somos pais, educadores, parentes e colegas delas, não podemos ser indiferentes a essa situação. Sem muito destaque e desprovido da aparência de misericórdia, devemos ajudá-las a superar tais limitações. A verdade é que, na maioria das vezes, não sabemos como proceder ou achamos que sabemos e agimos de modo errado. É o caso de pais ou educadores que se limitam a dizer “você tem de superar essa timidez e insegurança”, “se você continuar assim não vai vencer e nem ter amizades”, “veja fulano, é comunicativo, está sempre conversando, demonstra estar feliz, e você ai, morrendo pelos cantos”. Nada mais cruel! Isso não ajuda em nada e atrapalha muito. Semelhante aos primeiros passos e as primeiras palavras, momento em que a criança está diante de mais um desafio, necessitando do apoio e da aprovação dos demais, assim os que têm limitações, mesmo que sejam adolescentes, jovens ou adultos, cada um precisa também do mesmo apoio e incentivo que receberam quando estavam aprendendo a falar e a andar. Muito carinho com os quem demonstram timidez e insegurança. Estar junto deles, compreendê-los e ajudar nos passos para a superação é uma atitude das mais nobres de quem educa.

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

terça-feira, 6 de março de 2012

Evitando romper os limites da virtude

Deparo-me, de vez em quando, com pessoas que possuem virtudes, mas mesmo assim são extremamente infelizes. Essa constatação, por um bom tempo, deixou-me perplexo e meio decepcionado. Tinha dificuldade de aceitar o fato de uma pessoa ter determinada virtude e essa mesma virtude lhe causar infelicidade. Ora, se a virtude é algo precioso e trata-se de um dom concedido por Deus ao ser humano, como pode essa virtude ou esse dom causar infelicidade? Não podia entender a duplicidade de uma pessoa ser virtuosa e ao mesmo tempo infeliz. Para compreender melhor a origem da minha perplexidade, cito alguns casos que presenciei e tive que acompanhar.
Uma mãe de aluno adorava levar os filhos para a escola, para o inglês, ginástica, trabalho de equipe, festa e outros compromissos. Programava tudo bem direitinho. Sempre que conversava com as pessoas não se esquecia de exaltar o seu dom de levar e trazer seus filhos para diversos lugares, sem se aborrecer, sem se cansar e sem erros E assim foi por muito tempo No entanto, depois, quando os filhos não precisavam dela para se locomover, pois já haviam crescido, sentia-se infeliz, frustrada e sem reconhecimento, questionando se havia valido a pena ter feito o que fez. O vazio existencial era enorme. Sofria muito com isso.
Um aluno sempre gostava de cooperar em casa com todos. Era responsável e muito exemplar. Sempre que havia problema, ele cedia o seu espaço ou algo, para evitar confusão. A sua virtude maior era compreender, ceder e cooperar. Gostava de ser assim. Vivia feliz. Depois começou, a mudar e já não era o mesmo. Tornou-se um problema. Passou a ser agressivo, sempre demonstrando decepção com a situação e desânimo em voltar a ser o que era. Cansou de ser prestativo e cooperador. Sentia-se explorado.
Um colaborador procurava desempenhar bem as suas funções, compreendia todos os problemas da empresa, cooperava com seus colegas e, por ser assim, era muito procurado. Trabalhava demasiadamente para suprir deficiência da empresa, do serviço e das pessoas. Gostava de ser assim e era muito feliz. Depois mudou, passou a acreditar que o mundo era “cão” e que a vida era uma loucura. Perdeu a vontade de servir e a infelicidade tomou conta de seus sentimentos. Pendeu para o egoísmo e a indiferença tomou conta do seu coração.
Podia citar muitos outros casos, mas esses já são suficientes para completar o meu raciocínio e dizer as conclusões a que cheguei ao analisar esses e outros casos.
1-    A virtude é uma bênção em si e quem a possui deve exercê-la em toda plenitude.
2-    Todos têm virtudes e cada um deve procurar identificar as suas. Ninguém é desprovido de virtude. Apenas uns têm mais e outros menos.
3-    Das virtudes que temos, umas são mais fortes em nós e nessas devemos nos aprofundar e nos aperfeiçoar; outras são menos percebidas e, por isso, devem ser exercitadas mais ainda.
4-    Deus foi quem nos formou e é quem nos sustenta. A Ele devemos nos dirigir diariamente para nos orientar nas descobertas e no exercício das nossas virtudes.
5-    A pessoa ao exercer as suas virtudes corretamente, torna-se feliz e proporciona felicidade aos outros.
Há dentro de cada um de nós um mundo pequeno, o mundo interior. Ele é só nosso, é a nossa própria vida. As virtudes surgem daí. Apenas esse nosso mundo com o tempo extrapola e apresenta-se lá fora. E ao ter contato com o mundo exterior pode obter reconhecimento ou não. Havendo reconhecimento, a vida se torna encantadora. Se não há, no início não é problema, pois temos capacidade de superar obstáculos e contornar insucessos, sem prejudicar o nosso mundo interior. Contudo, essa resistência a problemas vai bem só até determinada faixa. Ultrapassando essa faixa, passamos a trabalhar alem do limite de nossa capacidade de contornar divergência. E nesse caso, a persistir, mesmo sendo uma virtude, ela se torna um problema. Assim, sempre que a virtude começar a lhe causar aborrecimentos, angústias ou recalques, procure recuar um pouco. Pode ser um sintoma, alertando que algo está errado e os limites de ceder não foram respeitados. Se não administrar bem essa fase, você corre o risco de transformar a sua virtude em um problema. Esse problema acaba gerando em você outros problemas, até implantar um forte sentimento de fracasso. Cuide bem de suas virtudes. Elas são preciosas. Existem para serem cultivadas e bem utilizadas. Fazem parte dos planos de Deus para tornar a vida mais bela. A sua e das pessoas com quem você convive.

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

sábado, 3 de março de 2012

CONVERSANDO COM QUEM ENTENDE

Entrevista com Rosalind Wiseman - Revista VEJA

Faixa-preta no caratê, a escritora americana, Rosalind Wiseman, dava aulas de defesa pessoal para garotas em Washington, capital dos Estados Unidos, quando se impressionou com as conversas das adolescentes sobre os constantes abusos físicos e psicológicos que sofriam ou infligiam a colegas na escola, o bullying. Interessou-se pelo assunto, aprofundou as conversas e hoje é uma das maiores especialistas nesse triste fenômeno. Em 2002, escreveu Queen Bees and Wannabes (Abelhas-Rainhas e Aspirantes, em tradução literal), um guia para pais, educadores e alunos sobre como lidar com a crueldade com que as meninas populares da escola (as “abelhas-rainhas”) tratam as colegas que aspiram a ser como elas. Best-seller instantâneo, o livro serviu de base para o enredo do filme Meninas Malvadas. Aos 42 anos, mãe de dois filhos, Rosalind, formada em ciência política, dedica-se a escrever livros e colunas e a dar palestras em que expõe, com exemplos muito concretos e didáticos, a prática do bullying e ensina a prevenir e atenuar seus efeitos. Preparando-se para sua primeira viagem ao Brasil — onde fará palestras na Escola Americana, em São Paulo, entre 12 e 14 de março—, ela falou a VEJA. A entrevista foi publicada na edição № 2258, de 29.02.2012. Por ser de grande valor para a educação, transcrevo na íntegra.


Destaques da entrevista.

−A escritora americana especialista em bullying diz que crianças e adolescentes que agridem e humilham colegas são acobertados em casa — e que as escolas em geral se omitem.

−Os pais e os educadores são frequentemente tomados de um sentimento de profunda impotência que os mantém paralisados. É preciso de uma vez por todas tirar os jovens da posição de comando.

−Ouço muito nas escolas que elas estão, sim, em plena cruzada de combate ao bullying. Mas isso não costuma se traduzir em nada verdadeiramente efetivo.

−Enxergo um aspecto positivo na atual geração de pais, que vive em busca de relações mais abertas, francas e afetivas com seus filhos. Os problemas começam quando essa tentativa de estabelecer um laço mais autêntico resvala para uma situação completamente absurda em que por nada no mundo a criança pode ser contrariada ou se sentir minimamente desapontada.

−O que preocupa é a dificuldade de enxergar as nuances entre a tirania e a amizade. Em muitos dos lares, por assim dizer, modernos, no lugar de noções básicas de hierarquia e limites, o que as crianças e adolescentes acabam obtendo dos pais é apoio incondicional, quando não conivência — inclusive para com os maus modos e os eventuais episódios de agressão que protagonizam fora de casa.

Alguns até bradam: “Quem se meter com meu filho está se metendo comigo também”. E um instinto de proteção cego, irracional. Mesmo alertados pela escola e por outros pais, eles se recusam a ver e a ouvir o óbvio. Estão se furtando assim à tarefa de dar uma boa educação aos filhos.

−Observando as famílias das crianças que costumam liderar o bullying, descobri um padrão comum à maioria. Em geral, elas vêm de ambientes em que os próprios pais não lidam bem com as diferenças. Costumam supervalorizar características físicas e psicológicas universalmente aceitas e desconfiar de quem destoa delas.

−O bullying nada mais é do que uma demonstração exacerbada da aversão às diferenças.

−As crianças e adolescentes estão recebendo estímulos para parecer mais velhos do que são, mas, infelizmente, não mais maduros.


O bullying está fugindo ao controle dos pais e das escolas? Conflitos em que ocorre abuso de poder e força para demarcar território são tão antigos quanto a própria espécie humana. Não estamos, portanto, diante de um fenômeno moderno, como alguns apregoam. Por outro lado, há, sim, certos aspectos da sociedade em que vivemos que conferem ao bullying feições particularmente cruéis e é isso que o torna mais difícil de ser controlado. A principal mudança está na internet, com a qual a atual geração de crianças e adolescentes mantém uma relação quase que visceral. É justamente ali, onde constroem sua identidade e seus laços de amizade, que eles começam a se ver alvo de humilhações capazes de se difundir por toda a escola em questão de horas. O problema passa a ganhar uma escala que nunca teve antes, enchendo a vítima de vergonha, solidão e medo. Os pais e os educadores, por sua vez, são frequentemente tomados de um sentimento de profunda impotência que os mantém paralisados.

A senhora está dizendo que as escolas não estão sabendo lidar com os casos de bullying? Minha experiência mostra que a maioria não encara esse problema como sendo também seu, prova de uma visão ainda antiquada sobre a educação. Nos últimos anos, a internet demoliu certas fronteiras físicas de forma avassaladora, como a que separava a casa da escola, mas muitos educadores continuam alheios a isso. Eles se esquivam de suas responsabilidades, limitando-se a dizer apenas que “o caso não aconteceu dentro da sala de aula, me desculpe, estamos de mãos atadas”. Pois, ao ignorarem a questão, dão sinal verde para que os agressores sigam adiante, seguros, e com razão, de que não serão punidos. Aqueles que são alvo das intimidações passam a odiar profundamente o colégio, onde não recebem o mais básico: segurança. Ouço muito nas escolas que elas estão, sim, em plena cruzada de combate ao bullying. Mas isso não costuma se traduzir em nada verdadeiramente efetivo. Toda essa discussão acaba por chamar atenção para uma enorme fragilidade que vejo na instituição escolar, nos Estados Unidos e em outros países.

A que fragilidade a senhora se refere? Varias escolas até tentam, mas não conseguem garantir um ambiente minimamente favorável ao aprendizado. Isso porque uma turma de educadores está se furtando à tarefa fundamental de estabelecer regras de bom convívio, divulgá-las a todos e fazê-las cumprir com rigor, castigando, em alguma medida, aqueles que as infrinjam. É preciso de uma vez por todas inverter a lógica segundo a qual são os jovens que estão no comando. O problema, evidentemente, não se restringe ao ambiente escolar. Ele começa em casa. Só que muitos pais preferem manter-se cegos a agir como deveriam.

É um traço típico dessa geração de pais? No grau em que se manifesta, sim. Enxergo um aspecto positivo na atual geração, que vive em busca de relações mais abertas, francas e afetivas com seus filhos. Querem contrapor-se aos próprios pais, bem mais distantes e rígidos. Os problemas começam quando essa tentativa de estabelecer um laço mais autêntico resvala para uma situação completamente absurda em que por nada no mundo a criança pode ser contrariada ou se sentir minimamente desapontada. O que preocupa aí é a dificuldade de enxergar as nuances entre a tirania e a amizade. Em muitos dos lares, por assim dizer, modernos, no lugar de noções básicas de hierarquia e limites, o que as crianças e adolescentes acabam obtendo dos pais é apoio incondicional, quando não conivência — inclusive para com os maus modos e os eventuais episódios de agressão que protagonizam fora de casa.

Os próprios pais acabam sendo condescendentes com o bullying? Exatamente isso. Existe um grupo, e com certeza não é pequeno, de pais que se arvoram em defesa dos filhos incondicionalmente, qualquer que seja a situação, ainda que às vezes não tomem consciência disso. Alguns até bradam:
“Quem se meter com meu filho está se metendo comigo também”. E um instinto de proteção cego, irracional. Mesmo alertados pela escola e por outros pais, eles se recusam a ver e a ouvir o óbvio. Estão se furtando assim à tarefa de dar uma boa educação aos filhos.

Como deveriam agir nesses casos? Como adultos. Eles devem não só assumir como enfatizar o problema, advertindo a criança, punindo-a prontamente quando preciso e procurando a escola, se esse for o caso. É básico, mas não tão comum. Vou além na crítica que faço. Muitos pais acabam não apenas agindo como cúmplices juvenis de seus filhos como também dando o mau exemplo em casa. Depois de tantos anos nesse campo, estou convencida de que tratar mal o outro, tentando se sobrepor à base da força e do medo, não é apenas um instituto humano, mas também um comportamento cultivado e assimilado socialmente.

Como isso ocorre? Não é tão óbvio, mas sutil. Observando as famílias das crianças que costumam liderar o bullying, descobri um padrão comum à maioria. Em geral, elas vêm de ambientes em que os próprios pais não lidam bem com as diferenças. Costumam supervalorizar características físicas e psicológicas universalmente aceitas e desconfiar de quem destoa delas. Eles reforçam, por exemplo, o ideal de magreza que tanto preocupa as crianças e adolescentes de hoje — inclusive os magros que querem ficar cada vez mais esbeltos. É curioso que esse tipo de manifestação preconceituosa aparece até mesmo naquelas famílias de gente muito lúcida, de forma quase invisível. Mas a mensagem está lá. O bullying nada mais é do que uma demonstração exacerbada da aversão às diferenças. Escuto muito pais criticando uns aos outros. É como um esporte nacional. Está claro que falta um olhar mais realista sobre si próprios.

O que a família pode fazer para ajudar os filhos quando eles é que se tornam o alvo das agressões? No afã de vê-los aceitos socialmente, são justamente os pais que muitas vezes os incentivam a tomar parte de grupos que, acreditam, podem lhes conferir status. Para tentar se integrar, a criança passa a bajular os que têm mais poder e prestígio na turma, mesmo sendo alvo de chacotas e humilhações. Os pais devem incentivar os filhos a cortar esse laço, no lugar de lutar por ele desesperadamente. É um primeiro passo para resgatar a autoestima, destroçada nesses casos. O bullying costuma impingir um sofrimento solitário e silencioso. A criança passa a isolar-se e a odiar a escola. A situação demanda sensibilidade dos adultos para perceber o que está se passando a sua volta e romper o silêncio.

Por que elegeu o universo feminino como campo de estudo de seu primeiro livro sobre o assunto? As meninas podem ser mais cruéis entre si do que os garotos. Elas têm uma compreensão muito clara sobre como a outra se sente e, com isso, conseguem ferir-se com requintes de maldade. Na adolescência, criam uma severa hierarquia no grupo, pautada por aquilo que vestem e possuem e também pela maneira como se expressam e se posicionam. São regras invisíveis, que se fazem perceber da pior forma possível — quando alguém as quebra e é punido por isso. As meninas se policiam umas às outras o tempo todo e costumam ser implacáveis com quem transgride. Praticam uma agressão de fundo mais psicológico, mas profundamente dolorosa, segundo relatos que venho colhendo ao longo desses anos de trabalho nas escolas. Muitas pessoas ainda se espantam quando trato dessas coisas. Preferem trilhar o caminho mais fácil, o do politicamente correto, a falar abertamente e ajudar.

Há uma idade em que as crueldades são mais comuns? Demonstrações de crueldade não têm idade para vir à tona. Elas podem surgir bem cedo, restando aos pais a dura e inadiável missão de encará-las. É natural que a maioria prefira vir à luz festejar os avanços ou os grandes feitos de sua prole. Mas, às vezes, o assunto é muito mais complicado e menos prazeroso. Não quer dizer aí que os pais tenham fracassado em seu papel de educar. Fujo desses dogmas. Mas lhes cabe uma óbvia reflexão sobre se os incentivos que estão dando em casa têm sido os mais apropriados.

Qual é a sua resposta a esse dilema? Existe uma moda por aí da qual discordo com veemência. As crianças e adolescentes estão recebendo estímulos para parecer mais velhos do que são, mas, infelizmente, não mais maduros. Não é só a roupa, ou o batom, mas a maneira como se portam e agem. Sinto uma angústia ao observar como se abreviam a infância e a própria adolescência em nome de idéias profundamente vazias na essência. Ao resvalar para isso, a lição crucial da tolerância diante das diferenças fica de lado. Nesse caldo equivocado de cultura, não espanta que o bullying se perpetue entre os jovens. Evidentemente que não é só a família que provê os incentivos equivocados, embora, de novo, ela tenha uma contribuição decisiva. Muitas vezes, são os pais que transformam os filhos naquilo que costumo chamar de “mininarcisos”, com a vaidade exacerbada e em permanente culto a si mesmos. O adolescente recebe hoje o maior de todos os privilégios da vida adulta — a liberdade — mas nenhuma das obrigações que vêm com a idade madura.

Falta também impor limites no uso de tecnologias? Sim. Sou uma entusiasta da internet, mas acho que, se não for bem usada, pode incentivar o vazio intelectual mais do que criar gente curiosa e pronta para refletir sobre o mundo em que vivemos. Por isso, especialmente no caso das crianças mais novas, o acesso à rede deve ser feito com orientação em casa. Navegar de forma produtiva, sem correr riscos desnecessários e extraindo o melhor da web, é um aprendizado. Tenho chamado muito a atenção de pais e educadores para a facilidade com que as crianças conquistam hoje artigos como tablets e celulares. Perdem e ganham um novo na mesma hora. É como se fosse um direito. Mas não deve ser assim. Estamos diante de um privilégio, e dos bons. Essa é a idéia que deve ser pavimentada.

Ainda que não reflita a realidade, o sentimento de dever não cumprido por parte dos pais é uma constante. Como combatê-lo? Antes de tudo, sou uma defensora de que essa atual geração se liberte da eterna culpa que a acompanha. Os pais têm culpa porque se divorciaram ou porque trabalham demais. Culpa porque querem manter uma vida própria e independente das questões maternas ou paternas. E culpa ainda porque às vezes, como são humanos, sentem raiva dos filhos quando eles se comportam mal ou os envergonham. Justamente movidos por esse sentimento de que não estão suprindo as necessidades dos filhos à altura de suas gigantescas expectativas como pais, acabam fazendo concessões muito além da conta.