Há certo exagero na valorização
do rápido. Tudo hoje tem de ser ligeiro. E não é só em termos de tecnologia. É
no comer, no conversar, no aprender, no responder, no andar, no decidir e
tantos mais. O pior é quando o rápido chega a atingir o relacionamento com
Deus, com a natureza, com o próprio corpo, com as pessoas e com a vida. Ai, as
coisas se complicam. Nesse campo, nada pode ser rápido e, muito menos, rápido
demais.
Sabemos que todo fruto delicioso amadurece lentamente; que para ser bem sucedido na
vida, precisamos passar por um processo de aprimoramento; que o imediatismo
prejudica a vida e mutila o relacionamento humano; que educação é semear com
sabedoria e colher com paciência. Por isso, a vida, o corpo humano, a natureza
e a própria história estão sempre nos ensinando a esperar moderadamente; a dar
tempo ao tempo; a não utilizar sempre a pressa, sob pena de prejudicar o
resultado esperado.
Na saúde, a tendência ao resultado rápido é algo mais preocupante ainda. A
propaganda apela “beba e coma a vontade, tome isso e logo se sentirá bem”,
quando nós sabemos que o corpo prefere alimentos saudáveis e em dosagem
adequadas. O sono deve ser respeitado, mas ainda é utilizado remédio para não
ter sono. Devemos nos inspirar nos exemplares ritmos da digestão, do
crescimento dos órgãos e membros do corpo, da gestação, do bem estar e do ser
feliz. Tudo isso demanda tempo. Saber esperar é sinal de sabedoria.
Em educação, mais
do que em qualquer outra área de atuação humana, é fundamental o resgate do
aprender a valorizar a espera. A vida clama por isso. Trata-se de um
aprendizado valiosíssimo, que é pré-requisito para todos os demais. Aprender a guardar a vez, o momento
certo. Não esquecer que reconhecimento, credibilidade, amizade e amor verdadeiro são
conquistas que só se adquire com o tempo.
Cuidado com o rápido. Ele é
contraditório. Pode ser útil, como
ser prejudicial; pode ser uma solução, como pode tornar-se um problema; pode
atrair ou afastar; ganhar ou perder. Compete a nós educadores conduzir e
preparar bem o ser humano, no sentido de saber definir corretamente quando deve
ser rápido ou esperar, ceder ou não as exigências da vida moderna, que impõe
rapidez em tudo que se faz. Preferimos seguir a recomendação do sábio Rei
Salomão – “há tempo para tudo sobre a
face da terra, inclusive tempo de lutar e tempo de viver em paz” (Livro de
Eclesiastes 3.8b).
José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com
*Publicado no caderno "Jornal do Leitor" de O POVO (27/11/2012)