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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Irresponsabilidade em cadeia

Fomos surpreendidos recentemente com dois acidentes, um no mar e o outro em terra. No mar aconteceu bem próximo à Ilha de Giglio, na Itália, quando um Cruzeiro, conduzindo quase cinco mil pessoas naufragou, após colidir com uma rocha. Em terra, o acidente ocorreu na Cidade Maravilhosa, nosso querido Rio de Janeiro, com o desabamento de três edifícios, bem no centro da cidade. Em ambos os episódios ficou muito evidente a falha humana, ou melhor, a irresponsabilidade praticada por quem deveria ter evitado os referidos acidentes. Não pretendo focar aqui as falhas ocorridas no acidente na ilha da Itália, mas tão somente as ocorridas no nosso solo. O prédio desabou por causa de uma cadeia de irresponsabilidade praticada não só por uma, mas por diversas pessoas envolvidas com a obra. E o fizeram de forma orquestrada, uma verdadeira sinfonia de irresponsabilidade. Iniciou-se com a equipe de construção, composta por vários engenheiros e empresários do ramo. Eles projetaram a construção de um prédio de 10 andares e construíram a base para erguer 10 andares. Depois, a equipe resolveu ampliar para 13 e em seguida para 15. Todas as etapas, para o nosso espanto, foram devidamente autorizadas pelo órgão público municipal. Isso significa que as alterações, irresponsavelmente sugeridas, receberam o aval e foram legalizadas, por  uma equipe composta de fiscais, técnicos e dirigentes, todos encarregados de proteger a sociedade dos perigos de uma obra irregular. Anos depois, não podia acontecer outra coisa a não ser o seu desabamento, causando simultaneamente, a queda de dois prédios visinhos. Irresponsabilidades semelhantes já existem a tempo. Lembro-me do que ocorreu em 1988, também no Rio de Janeiro, em plena entrada de ano novo, quando o barco Bateau Mouche, que transportava cento e quarenta e duas pessoas em passeio na Baía de Guanabara naufragou, causando a morte de mais de cinqüenta pessoas. O mais chocante não foi o acidente em si, mas principalmente a causa do acidente: desrespeito às leis de segurança e prevenção de acidente. E isso com o agravante de que a fiscalização já havia chamado a atenção para o perigo, ordenando inclusive que a embarcação retomasse ao lugar de origem e só viajasse com o número de passageiros permitido pelas normas de segurança. Mas, a insensatez prevaleceu e o barco retornou com o mesmo número de passageiros, burlando a fiscalização. Dessa vez, o erro não foi do ente público, pois a fiscalização fora feita com rigor. O que houve foi uma cínica burla à fiscalização, pasmem, com a ajuda dos próprios passageiros. Só que desta vez o tempo não ajudou e o barco sucumbiu. O jeitinho brasileiro, tão badalado e endeusado na época, mas que hoje, graças a Deus, é bastante questionado, não deu certo e anulou muitas vidas. Lembro-me também, agora, o que aconteceu comigo, quando em abril de 1975 fui fazer uma viagem à Região do Cariri, com quarenta alunos entre 15 e 16 anos de idade. O ônibus da empresa contratada estava velho, a direção com muita folga e a luz muito fraca. Ainda em Messejana, já saindo de Fortaleza, o limpador do pára-brisa deixou de funcionar. A chuva estava começando, mas demonstrava que ia demorar. Quis desistir, mas a moçada queria ir assim mesmo. Paramos na fiscalização para mostrar a documentação. Aproveitei a oportunidade para me valer do guarda rodoviário (estadual) e contei-lhe os problemas e o grande risco. Ele perguntou ao motorista de quem era o ônibus e ele disse o nome do proprietário. O guarda limitou-se a recomendar que tivesse muito cuidado, pois estava chovendo, a viagem era perigosa e os passageiros eram jovens e neles estava o futuro do Brasil. Boa piada acabava de ouvir e que de verdade, só tinha a afirmação sobre os jovens. Eu contava com apenas dois anos de diretor de colégio. Não possuía ainda autoridade e segurança suficientes para impedir a viagem e fazer todos retornarem para suas casas. Temia a reação deles e dos pais. Cedi e deixei o carro seguir viagem. A única coisa que fiz foi pedir o silêncio e solicitar que todos orassem pedindo a proteção de Deus. Fui para frente do ônibus e fiquei atento a tudo que ocorria na estrada. Só Deus sabe o quanto sofri. Ainda bem que chegamos em paz e não foi desta vez que a omissão de um líder (no caso eu) trouxe prejuízo para as pessoas. Fiz um pacto comigo mesmo e perante Deus, que jamais me omitiria ou ficaria calado diante da omissão dos outros, quando estivesse em jogo a vida, a paz e a integridade das pessoas. Vem em minha lembrança, também, agora a visita do Papa a Fortaleza, em 1980, quando na abertura dos portões do Castelão foram mortas, se não me engano, quatro pessoas. Ainda, na mesma época, na Praça José de Alencar, alguns jovens morreram eletrocutados durante a apresentação de um show, por descuido de quem montou os equipamentos. Em 1998, o Edifício Palace II desabou no Rio de Janeiro, deixando 8 (oito) mortos e 150 famílias desabrigadas. A empresa Sersan, de propriedade do Deputado Federal Sérgio Naya, foi acusada de usar material de baixa qualidade na construção do prédio. Assim, no nosso dia a dia têm sido registrados fatos e fenômenos que ocorrem sucessivamente, uma verdadeira cadeia de irresponsabilidade na ação ou omissão, ora do comandante, ora dos construtores, dos empresários, ora do guarda, ora do motorista, ora do técnico, ora da multidão. É o caso de se perguntar: até quando, meu Deus, essa situação vai perdurar? A resposta tem de ser DEPENDE! Sim, depende da iniciativa de pessoas sérias e bem intencionadas, que resolvam se rebelar contra essa prática e trabalhem pela formação, em cada cidadão, de uma nova consciência social. É importante, pois, não praticar e nem permitir práticas irregulares. É prudente não ceder, aliás, nunca ceder, e nem se calar, quando estiver em jogo a integridade física das pessoas. Se cada um fizer a sua parte, com certeza, os acidentes serão bem menores e os sofrimentos também. Se há uma irresponsabilidade em cadeias, devemos reagir, com muito mais evidência, contra essa prática, formando uma grande cadeia de pessoas responsáveis que acreditam na construção de mundo bem melhor.

José Milton de Cerqueira
Educador e Advogado
jmcblogger@gmail.com

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