É bom ir mais a fundo na análise do caso FELICIANO E A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS. O Jornal O Povo na edição de 24 de março dedicou um bom espaço para esclarecer ao leitor. Selecionei dois textos por achar serem os mais importantes.
Leia. É importante. Entenda tudo.
DIREITOS
HUMANOS 24/03/2013
– Jornal OPOVO
O que a ascensão de Feliciano revela sobre o Brasil
e a política
Além
da ascensão política do radicalismo religioso, a indiferença da esquerda pelos
direitos humanos e o descompasso entre o Parlamento e a sociedade explicam a
eleição de Feliciano
O estardalhaço hoje instalado em torno da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados torna difícil
acreditar que, até o mês passado, o espaço passava de mão em mão entre partidos
desinteressados pelo assunto. Descartado até por quem sempre teve o tema como
bandeira, a presidência precisou cair no colo de um pastor de ideias
fundamentalistas para voltar aos holofotes. Mais que costura de bastidores, a
chegada de Marco Feliciano (PSC-SP) ao controle da CDHM é reveladora da nova
cara do poder e da sociedade brasileira.
Destaca-se nessa realidade o fortalecimento de
setores religiosos de postura controversa, que se inserem no controle de pautas
até então dominadas por segmentos mais progressistas. Para além de discursos na
tribuna, essa bancada passa a centrar fogo nas comissões que tocam em assuntos
sensíveis às igrejas, sobretudo as neopentecostais, embora a abordagem incomode
mesmo segmentos evangélicos.
Forças de orientação mais religiosa que política
que cresceram, organizaram-se institucionalmente e se interessaram por novos
espaços, mas cuja ocupação de desses postos de destaque só ocorreu devido a uma
esquerda que, no poder institucional, trocou antigas bandeiras pela
governabilidade. Para que o PSC assumisse o controle da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias, foi necessário que segmentos historicamente ligados à pauta
dos direitos humanos deixassem o tema em segundo plano. Sobretudo o PT.
Outras prioridades
Mesmo indicando três dos 21 presidentes de comissões, o partido
priorizou neste ano as áreas de Constituição e Justiça, Seguridade Social e
Relações Exteriores - todos ligados diretamente à estabilidade do governo Dilma
Rousseff no Congresso Nacional. “Algumas dessas comissões iriam para o PSDB
(maior partido da oposição), o que seria um problema”, diz o líder do PT na
Casa, o deputado cearense José Guimarães. No passado, petistas de alto
prestígio dentro do partido, como os ex-ministros Nilmário Miranda e Iriny
Lopes, comandaram o colegiado.
Outros segmentos que também costumavam dar
prioridade à temática, como PCdoB e PDT, também abriram mão da posição ao
optarem pelos colegiados relacionados a outros temas. Como ninguém mais se
interessou, a indicação acabou sobrando para o PSC.
Para além do poder institucional
O descaso que forças partidárias passaram a dispensar ao assunto no
Congresso não condiz com a importância que os diversos temas agrupados sob o
guarda-chuva de direitos humanos mantêm na sociedade. Nas muitas manifestações
que seguiram à indicação do PSC, quem antes era grupo representado passou a
questionar os representantes. Reflexo do descolamento entre políticos eleitos e
aqueles em cujos nomes deveriam falar.
“A comissão foi posta de lado, mas os direitos
humanos não perderam importância. A intensa repercussão contra o Feliciano
provou isso”, afirmou ao O POVO Domingos Dutra (PT-MA),
antecessor de Feliciano na comissão.
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PROTESTOS 24/03/2013 – Jornal OPOVO
O Brasil que reagiu ao
pastor Feliciano
Em plataformas virtuais e também no mundo
real, manifestações que partiram desde movimentos sociais até a apresentadora
Xuxa colocam o Legislativo contra a parede
Entre os desdobramentos que eclodiram após a
eleição de Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e
Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, destaca-se a revelação de um Brasil
que não aceitou a escolha que veio de cima. Sem dar trégua desde o dia da
divisão das comissões, as muitas manifestações contra a posse do pastor
travaram a pauta da CDHM e colocaram pressão sobre as maiores lideranças do
Congresso Nacional.
Mais do que mostra de insatisfação com os
rumos da comissão, as manifestações deixaram claro que o descaso com que a
maioria dos partidos tratou a CDHM não condiz com a relevância dos temas em
discussão no colegiado. A revolta atingiu desde movimentos sociais organizados
à apresentadora Xuxa, que protestou pelo Facebook. As redes sociais, a
propósito, têm sido o principal canal de indignação, mas as reações não ficaram
restritas ao mundo virtual.
Na última quarta-feira, 20, Feliciano abriu
sessão do colegiado sob vaias de manifestantes que lotavam as galerias da
Câmara. Incapaz de dar prosseguimento à pauta dos trabalhos, o deputado
abandonou a sala oito minutos após a abertura da reunião.
A pauta da sessão era debate sobre os
direitos de portadores de transtorno mental. Porém, após quase 30 minutos de
bate boca, a reunião foi encerrada sem qualquer discussão sobre o tema.
A situação colocou sob pressão o presidente
da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que teria pedido que
o PSC repensasse a indicação de Feliciano para o colegiado. Segundo Alves, que
deu prazo para até a terça-feira, a situação do parlamentar na CDHM estaria
“insustentável”.
Marco Feliciano, por outro lado, afirmou na última
quinta-feira, 21, em entrevista a rádio do Grupo Estado, que não deverá
renunciar “de maneira nenhuma” a presidência da comissão.
Frente Parlamentar
Apoiado pela repercussão
popular do caso, grupo de deputados criou a Frente Parlamentar em defesa dos
Direitos Humanos. A ideia é criar alternativa à CDHM no debate sobre os
direitos humanos na Câmara, que estaria, segundo os parlamentares contrários à
indicação de Feliciano, “inviabilizado” na comissão oficial. A proposta recebeu
adesão inclusive de líderes partidários na Câmara, o que não costuma acontecer
em frentes parlamentares do Congresso. (Carlos Mazza)
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Sob pressão de movimentos populares, o
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deu prazo de até terça-feira,
26, para que o PSC resolva o impasse na CDHM. Feliciano, no entanto, afirma que
não irá renunciar.
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